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  • Giovana Frioli

'Acordei brasileira, de novo': as próximas eleições e o chute na bunda do bolsonarismo

Atualizado: 9 de dez. de 2021

Como chegamos aqui. O que aprendemos com o passado e que tipo de futuro podemos construir.


 



Créditos: Gabriela Biló

Falar sobre o Bolsonaro sempre é cansativo. Há anos pedimos ‘Fora Bolsonaro’ e ele segue lá. Já apelamos até para o Michel Temer – o pai que criou seu filho, o bolsonarismo, após o golpe. Bate um desânimo: “É, eu acordei brasileira de novo”. Mas, de fato, não estamos cansados de Brasil, e sim das tragédias e do sofrimento. Se já conhecemos o buraco do Governo Bolsonaro, nos resta saber como podemos abandoná-lo pequeno e sozinho no escuro.


Antes de tudo, sem Bolsonaro não vivíamos um sonho no Brasil. Apesar de parecer que sim quando olhamos para a dimensão do pesadelo atual. Há cerca dez ou vinte anos no país não tínhamos uma realidade tremendamente feliz. Tínhamos calmaria, uma certa estabilidade e uma certa esperança também. O desejo de melhorias era um afeto que acolhia aqueles que tinham alguma consciência de classe, mesmo diante das contradições do período. Mas, antes de Bolsonaro, não estávamos sentados esperando a vida passar. Tinha muita luta também.


Não esquecemos da resistência contra a construção de Belo Monte que atropelava os direitos indígenas e a natureza. Antes de Bolsonaro já lidávamos com o encarceramento em massa, fruto do racismo institucional do sistema penal e da ‘guerra às drogas’ – que não é contra as drogas e sim ao povo mais pobre, racializado e periférico no Brasil. Antes de Bolsonaro passávamos bons investimentos na educação: o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística aponta um aumento de 400% na presença de negros e negras no Ensino Superior entre 2010 e 2019. Mas nem tudo era um mar de rosas. O sistema educacional no país ainda era deficitário em recursos, muito abaixo do ideal e do necessário, seja na educação básica ou nas universidades.


Antes de Bolsonaro, o Brasil conseguia alimentar o seu povo. Depois de tantos anos de fome crônica, o país saiu do Mapa da Fome em 2014 com um índice abaixo de 5% em subalimentação, com programas como o ‘Fome Zero’, a expansão do Bolsa Família e outras políticas públicas que vieram dos governos do Partido dos Trabalhadores e dos estados brasileiros. Havia comida chegando na mesa do trabalhador do Brasil, diferente do que vemos hoje, com uma insegurança alimentar que atinge mais da metade da população – 125 milhões de cidadãos, de acordo com o Grupo Pesquisa Alimento para a Justiça.


Apesar de tudo, ainda era um país sem reforma agrária, sem enfrentar o agronegócio e atrasado nas políticas de demarcação de terras. A bancada ruralista seguia mandando e estava no ministério. O boi, a bíblia e a bala já existiam no Brasil. O fundamentalismo religioso não havia começado com Bolsonaro; eles já negavam direitos reprodutivos das mulheres, atacavam a população LGBTQIA+ e promoviam racismo contra religiões de matriz africana. Mesmo mais fortes com Jair, não surgiram com a eleição de 2018.


Para construir o depois de Bolsonaro – que é praticamente reconstruir muitas coisas – também precisamos pensar no que construir. É bem evidente que muitos de nós daríamos tudo para voltar ao ano de 2010, imagina né?! Quando tínhamos mais pessoas alimentadas, a Amazônia era menos destruída e tinha mais emprego para a população. Mas não podemos deixar de apontar as contradições da época, que nos deixaram de certa maneira mais vulneráveis ao que vivemos hoje.


A despolitização, também promovida pela esquerda no Brasil, tornou o caminho mais fácil para a direita e para Bolsonaro se reerguer com os seus próprios esforços e métodos – Whatsapp?! A partir de agora, é importante pensarmos na oposição do atual presidente, sem deixar de lado o que de fato precisamos. Apesar de boa parte dos mais ricos e dos poderosos estar desgastada com a figura de Bolsonaro – e quererem até se livrar por não conseguirem controlá-lo – eles irão manter os reacionários vivos.


Derrotar o Bolsonaro não é suficiente. É necessário derrotar o bolsonarismo e as ideias raízes que o criaram – tal como o Movimento Brasil Livre (MBL) que se diz contra o presidente mas fortaleceu o fascismo no país. Tirar o Bolsonaro abala o bolsonarismo, mas ele pode se renovar – e aí estaríamos trocando seis por meia-dúzia! Quando falamos: ‘O Bolsonaro vai cair’, alguém tem que empurrar e precisa ser a gente.


Recomendação de leitura


Sintomas Mórbidos: a Encruzilhada da Esquerda Brasileira

Autora: Sabrina Fernandes

Texto escrito conforme o novo acordo ortográfico.

Variedade linguística brasileira utilizada.

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