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  • Thaís Magalhães Manhães

Round 6: um personagem, várias críticas

Atualizado: 10 de jul. de 2023


Round 6 é uma série sul-coreana da Netflix que estreou em setembro de 2021, e garante sangue e crítica em todos os episódios. Em pouco tempo no ar, se tornou a série mais assistida em 90 países e o seu sucesso apresentou ao mundo, através de personagens complexos, traços da cultura do país asiático.


Idealizada pelo roteirista e produtor sul-coreano Hwang Dong-hyuk, o K-Drama tem uma temporada de nove episódios. Atraídos por um prêmio milionário de 40 milhões de Wons, um grupo de pessoas desesperadas por dinheiro são numeradas e confinadas em um espaço lúdico, que ao longo dos episódios, se torna sangrento. Brincadeiras populares da Coreia do Sul são as provas que os personagens são submetidos. Perder significa a morte, e os que morrem contabilizam mais dinheiro para o vencedor, ou melhor, sobrevivente.


Mas o suspense dramático vai muito além do raso conteúdo, que, num primeiro momento, pode parecer apenas violento. A série retrata questões sociais transversais à vida dos cidadãos na Coreia do Sul. A série ganhou grande repercussão ao redor do mundo. Na vizinha Coreia do Norte, foram registrados casos de prisão perpétua e pena de morte daqueles que venderam ou assistiram à série.


Round 6 assumiu um papel político e crítico ao expor ao mundo, em formato de trama, os problemas sociais enfrentados por aqueles que vivem na Coreia do Sul. Cada personagem que aceita participar da competição chega até lá por algum motivo, e esse motivo representa uma pauta social.


Gi-hun (Lee Jung-jae), o personagem principal, simboliza o fracassado profissionalmente. A viver com a sua mãe em um minúsculo imóvel que mal cabe uma pessoa, Gi-hun nunca tem dinheiro para as necessidades básicas da filha, e também não consegue ajudar a mãe com as contas da casa. Endividado, pedia empréstimos a conhecidos e à máfia local. O personagem marcado pela dualidade tristeza-comicidade é ameaçado de morte pela máfia por não ter pago uma dívida, e assim recorre ao jogo como salvação.


O que leva as pessoas para o jogo é a necessidade de grana e oportunidades, realidade de muitas famílias na Coreia do Sul. Um relatório do Banco Central da Coreia aponta, por exemplo, que 30% dos sul-coreanos são superqualificados para a vaga de emprego que ocupam. Segundo o jornal The Hankyoreh, três em cada quatro jovens entre 19 e 34 anos querem deixar o país em busca de melhores oportunidades. A desigualdade social é pauta em Round 6, o que lembrou um pouco o filme “Parasita”, de Bong Joon-ho.


A família da norte-coreana Sae-byok (Jung Ho-yeon) foi separada. O pai da personagem foi assassinado pelo regime do país, a mãe foi detida em território chinês quando tentava entrar na Coreia do Sul pela China, e seu irmão mais novo levado para um orfanato. A história da personagem Sae-byok aborda a relação complicada com a China, principal aliada da Coreia do Norte. Muitos norte-coreanos arriscam fugir para a Coreia do Sul para encontrar melhores condições de vida. Antes de 2019, mais de mil norte-coreanos tentaram refúgio à sul.


Ali, um imigrante paquistanês, torna-se um número do jogo depois que parou de receber salário do seu chefe sul-coreano. Casado e com um filho, a falta de renda para sustentar a família força Ali a abandoná-los para arriscar-se no jogo. A personagem simboliza, portanto, a vulnerabilidade da exploração de trabalhadores imigrantes no país.


A corrupção chega na série quando o personagem Cho Sang-woo (Park Hae Soo), um jovem banqueiro promissor, se envolve em um esquema de desvio de fundos da empresa em que trabalhava. A realidade ficcional do personagem se relaciona com casos reais de corrupção. Diversos escândalos com a elite política do país têm sido expostos nos últimos anos. Um escândalo que marcou o ano de 2017 foi a condenação a 24 anos de prisão da ex-presidenta Park Geun-hye após a constatação de envolvimento no caso “Rasputina”.


Round 6 é coreano e universal. Por meio de personagens complexos o autor conecta ficcção e realidade. Com um roteiro atento aos problemas sociais sul-coreanos e globais, a série traz não só características típicas da cultura sul-coreana, como também problemas sociais comuns a outros países. Talvez este seja um dos motivos para o grande sucesso da série.


Escrito conforme o novo acordo ortográfico.

Variedade brasileira utilizada.


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