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  • Ana Francisca Maio

"Não faz mal não estar bem", já dizia a Mimi

Atualizado: 4 de dez. de 2021

Numa altura em que parece que tudo tem de ser perfeito e que temos de estar bem e felizes 100% do tempo, vale sempre a pena lembrar que "não faz mal não estar bem".


 




A primeira vez que ouvi esta música da Mimi Froes foi como se finalmente alguém entendesse o que eu tenho vindo a pensar nos últimos tempos. Não me cabe na cabeça o porquê de nos ser cobrado tanta coisa a todo o tempo. Ah, porque temos de estar sempre bem, a sorrir, com energia, a aproveitar cada segundo. Não, não temos! Isso seria demasiado racional e nós somos também seres emocionais. Estar triste, desmotivado, cansado, faz parte. Se não tivéssemos maus momentos, nunca saberíamos quais eram os bons.

As redes sociais só vieram exacerbar essa constante pressão que a sociedade exerce sobre nós. No Instagram, só vejo vidas perfeitas. É muito raro ver alguém com visibilidade, algum influencer, que seja, de facto, totalmente genuíno. O que passa para este lado são pessoas sem problemas, com corpos ditos perfeitos, que se alimentam sempre bem, fazem exercício todos os dias, têm dinheiro e viajam durante dois terços do ano. E se por acaso alguma alma genial se lembra de fazer um post ou um storie a chorar ou simplesmente com um texto super comovente a falar de como a vida é difícil - porque o vestido da Gucci não chegou a tempo da viagem às Maldivas - é só para os gostos e o engagement. É completamente impressionante a pressão que isto traz para as nossas vidas, porque queremos ser iguais a estas pessoas, queremos estar felizes o tempo todo, e achamos que conseguimos, porque se eles conseguem nós também conseguimos. A verdade é que ninguém quer ir para as redes sociais mostrar que é um ser humano real.


Um estudo realizado por cientistas da Universidade de Calgary, no Canadá, sobre 80.879 crianças e adolescentes de todo o mundo (Ásia Central, Europa, Médio Oriente e das Américas do Norte, Central e Sul), revelou que um em cada quatro jovens tem sintomas de depressão elevados e um em cada cinco sofre de sintomas de ansiedade, neste pós-pandemia. A mesma análise mostrou ainda que são as raparigas e os jovens mais velhos que apresentam níveis mais elevados de depressão e ansiedade, e que os números duplicaram comparativamente ao pré-covid.



O importante é que, ainda que a pandemia tenha vindo piorar a incidência destas patologias, os níveis já eram antes elevados, o covid só veio trazer visibilidade ao tema. Mesmo assim, falar de ansiedade e depressão continua a ser um tabu. Para além disso, já reparei que muitas vezes estas doenças são banalizadas. Não, não tens ansiedade porque tens um jogo amanhã de manhã e por isso dormiste mal durante a noite, e não, não tens depressão, porque choraste um dia por os teus pais te terem tirado o telemóvel. Ansiedade e depressão são coisas sérias e causam muito sofrimento a quem passa por elas, devendo, como tal, ser tratadas com respeito e seriedade.

Estamos em 2021, mas quem vai ao psicólogo ainda é apelidado de "maluquinho", e é algo visto como anormal. Mas porquê? Porque é que a saúde física é sempre posta em primeiro lugar, se caso a mente não estiver bem, o corpo de nada serve? Não entendo. Porque é que não hei de poder ter ajuda de um profissional para aprender a lidar com os meus sentimentos e emoções, e com os problemas do dia-a-dia? Também não entendo. Algo que ainda piora esta situação é o facto de o acompanhamento psicológico ser um luxo, nos dias de hoje. Vale a pena? Vale. É caro? Bastante. Esta área da saúde devia ser acessível a todos os bolsos. Já que agora se anda a falar tanto sobre estes temas, vamos passar à ação. Vamos, por favor, ter um psicólogo que acompanhe cada família, tal como temos um médico de medicina geral por cada família.

Só me resta apelar a que se lembrem que, caso sofram de ansiedade, depressão ou outra patologia mental, não estão sozinhos. Procurem o apoio de um profissional, dos vossos familiares e amigos. O primeiro passo é reconhecer. Depois, perceber que não dá para sair desse buraco negro sozinho. Se, por outro lado, conhecerem alguém que esteja a passar por uma destas situações, não abandonem essa pessoa, mesmo que ela não grite por ajuda, ela precisa dela. Não hesitem em contactar: SOS VOZ AMIGA (213 544 545 | 912 802 669 | 963 524 660); CONVERSA AMIGA (808 237 327 | 210 027 159); VOZES AMIGAS DE ESPERANÇA DE PORTUGAL (222 030 707); TELEFONE DA AMIZADE ( 222 080 707); VOZ DE APOIO ( 225 506 070 | sos@vozdeapoio.pt).


Acima de tudo, lembrem-se: "não faz mal não estar bem".




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