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Eu sou aqui e também sou ali

  • Foto do escritor: Letícia Carvalho
    Letícia Carvalho
  • 1 de dez. de 2021
  • 2 min de leitura








Você é você onde quer que esteja e em qualquer situação. Esse é um dos grandes dilemas da vida, a responsabilidade de ser quem você é. Meu nome, rosto e outras características estão sempre atreladas a mim. E, por isso, sou brasileira até na Bulgária.

O processo de imigração é repleto de desafios e descobertas. Independente de quanto tempo você esteja fora ou quantas vezes já tenha mudado de país, é impossível que as situações se repitam da mesma maneira.


Tendo eu saído do Brasil e ido morar em Portugal, decidi me aventurar mais uma vez e chamar a cidade de Sofía, no Leste Europeu, de casa. Assim, inevitavelmente, comecei a fazer comparações e relações entre as minhas duas experiências de migração.

Não consigo afirmar com toda a certeza que o motivo seja a distância física ou cultural, mas pouco se sabe sobre o Brasil na Bulgária. Todas as vezes em que me perguntavam o meu país de origem e eu respondia, ficavam curiosos acerca do motivo que tinha me levado até lá e “como é a vida no seu país?”. Mais curioso ainda é me deparar com pessoas de outras nacionalidades, deste lado da europa ou de países asiáticos, com estes questionamentos também. Afinal, o mundo é realmente gigante e assim como não conhecemos profundamente todos os países do globo, há muita gente que não conhece de verdade o nosso.

Enquanto ando na rua ou até no meu ambiente de trabalho, quando as pessoas não me conhecem, automaticamente falam comigo em búlgaro e com outros colegas imigrantes em inglês. A princípio achei que seria coincidência, depois percebi que era um padrão. Observei melhor enquanto andava pelas ruas e comecei a questionar algumas pessoas sobre isso. Descobri que encontravam em mim algumas semelhanças físicas com os naturais dali. “Tem rosto redondo, cabelo liso e castanho? Provavelmente você é búlgara.” é o que eu agora imagino que pensem quando me olham.

A verdade é que ir para um lugar no qual a cultura seja, de facto, diferente da sua faz com que: 1. você descubra na vida real o que realmente é diferente 2. se adapte. Não costumava comer abóbora de manhã, passei a comer. Não costumava buscar água termal na fonte da rua, passei a buscar. Não costumava tentar ler alfabeto cirilico, passei a tentar (só tentar mesmo).


A imposição de quem você é a todo o momento faz também com que todas as vivências sejam atreladas somente a ti. Não se pode viver uma vida e acrescentar a bagagem à vida de uma outra pessoa. Ser é um contínuo perfazer.


Texto escrito conforme o novo acordo ortográfico.

Variante linguística brasileira utilizada.


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